“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma.”
...E na música também senhor Lavoisier... e na música
também...
Estreando o nosso cantinho musical aqui no blog, nada melhor
do que falar sobre a origem daquilo que ouvimos.
A ideia é simples: Vamos levantar os 5 gêneros musicas mais
ouvidos no Brasil atualmente (medo), e então desmembrar a árvore genealógica de
cada um deles para ver o que encontramos lá atrás.
Será que de maneira análoga à teoria da evolução das
espécies, temos uma teoria da evolução das músicas? E quem sabe dois ou mais
gêneros que soam totalmente distintos hoje, um dia compartilharam um ancestral
em comum? Seria louco né?... Veremos então:
Os 5 gêneros musicais mais ouvidos no Brasil
Pra começar, vamos atrás dos
cinco gêneros musicas mais ouvidos no Brasil atualmente, confesso que eu estava
com medo do resultado dessa pesquisa, mas acho que não tivemos grandes
surpresas. Veja só como estava o cenário divulgado pelo IBOPE ainda no final de
2013:
Cara, é surpreendente como esses
cinco primeiros gêneros da lista, descrevem exatamente o gosto musical da minha
mãe... Incluindo as porcentagens. Mas isso não vem ao caso, então
prosseguiremos.
Na liderança isolada do nosso top
five, temos o sertanejo, seguido por MPB em segundo, Samba/Pagode em terceiro,
Forró em quarto, e se segurando na quinta colocação, o nosso bom e velho rock.
Vou começar a análise genealógica
dos gêneros acima na ordem decrescente, partindo do quinto colocado até o
primeiro, pois para mim sempre será mais fácil começar falando de Rock:
O bom e velho...(velho mesmo)...Rock and Roll!
Dentre os nossos cinco gêneros de estudos aqui , o rock é provavelmente aquele que tem a origem mais documentada devido a sua popularidade em nível mundial. No entanto, mesmo assim, os detalhes do seu surgimento no final da primeira metade do século 20, não são nem um pouco claros, e variam de acordo com as opiniões de diferentes autores sobre sua definição. Mas se tem algo que é claro e unanime quando se olha o passado do rock, é o que diz respeito aos gêneros musicais que se apresentam como suas raízes, e é justamente o que buscamos aqui: o ancestral em comum!
O consenso é de que o rock se originou nos Estados Unidos da mistura de estilos musicais afro-americanos como o blues, rhythm and blues e gospel, e estilos musicais tradicionais como o country e o folk.
Ow! Sabia que forró vem da expressão for all? (E você sabia que isso não é verdade?)
Sim, provavelmente você já ouviu a história de que americanos ou ingleses estavam instalados no nordeste brasileiro para a construção de uma ferrovia no inicio do século XX, e que esses caras promoviam festas abertas ao público intituladas de For All (para todos), e a partir disso os nordestinos pronunciariam o termo como “Forró” dando origem ao nome do quarto estilo musical mais ouvido atualmente pelos brasileiros. Apesar de ser uma versão bem humorada e muito difundida popularmente para a origem do nome “Forró”, saiba que não existem sustentações históricas para essa versão, e a versão mais aceita para a origem desse nome é a de que ele seria uma abreviação do termo “forrobodó”, e este uma variante do termo galego-português “forbodó”, que por sua vez deriva do francês “faux-bourdon”, que significaria algo como desentoação.
Embora a explicação para a origem dos nomes não seja o nosso foco aqui, achei que eu tinha o dever de esclarecer isso, uma vez que até ontem eu era um entusiasta da ideia do “for all” e inclusive já havia disseminado ela para boa parte das pessoas que eu conheço, estou tentando por tanto me redimir um pouco com a história do forró aqui.
Voltando às origens musicais do forró. Esse gênero acaba generalizando vários ritmos nordestinos como baião e o xote.
O baião tem a sua origem no Lundu, ritmo que data do século XIX, criado a partir da mistura dos batuques dos escravos trazidos da Angola, e dos ritmos portugueses.
Já o xote tem origem alemã. O nome em alemão seria “schottisch” que significa “escocesa”, referencia à polca escocesa para os alemães. No entanto o que era algo restrito para festas em salões aristocráticos europeus, chegou no Brasil! E quando as coisas chegam no Brasil meu amigo, elas mudam! (Vejam só o Orkut...). Logo os brasileiros trataram de acrescentar toda a musicalidade e ritmo que os africanos trouxeram na bagagem ao novo estilo, e trocaram a pedreira ortográfica “schottisch” pelo o nosso simples e simpático “xote”, contribuindo para que o ritmo caísse no gosto popular.
E o Samba?
O samba é o chefão aqui no
Brasil, embora a pesquisa mostre que estamos ouvindo mais sertanejo do que
qualquer outra coisa, é inegável que o samba faz parte da identidade nacional
(mesmo que você não se identifique muito com ele), isso porque o mesmo é tido
como um dos ritmos mais genuinamente brasileiro, justamente por conta da sua
origem.
No final do século XIX e começo
do século XX, a dança e os ritmos praticados pelos escravos libertos no Brasil,
entrou em contato com outros ritmos populares que haviam na época, como o
maxixe, o lundu e o xote, apresentando um novo gênero que por muito tempo ainda
seria marginalizado no Brasil, antes de se tornar a própria identidade musical
do país, assim nasceu o Samba.
Leitores mais atentos vão
perceber que dois conhecidos nossos deram as caras novamente por aqui né? Mas
vamos deixar essas conclusões para o final.
MPB
Tá aí um gênero musical que carrega o Brasil até no nome! A música popular brasileira ou MPB, teve seu surgimento como um gênero musical distinto na década de 60. Tem suas raízes fincadas na bossa nova, que por sua vez seria uma sofisticação do nosso amigo samba ali em cima. Diferente da bossa nova, a MPB apresentava um certo engajamento político, fazendo frente à ditadura militar na época, e também buscava influências diversas, incluindo flertes com o rock e ritmos folclóricos tradicionais do Brasil. Em síntese: O samba teve um filho playboy, que era a bossa nova, e a bossa nova teve um filho meio revoltado e hippie, a MPB!
E finalmente o gênero mais ouvido: Sertanejo
Se você sintonizar aleatoriamente alguma estação de rádio nesse momento, você terá 90% de chances de ouvir uma música classificada como sertaneja, e 10% de ouvir alguma propaganda.
O sertanejo, ainda conhecido como música caipira, se originou no começo do século XX, no interior brasileiro, o ritmo contava com a viola como instrumento principal e unia influencias de diversos gêneros que marcavam presença no interior na época como o nosso já conhecido lundu, a catira ou cateretê que eram ritmos oriundos de danças indígenas, e o cururu, que era caracterizado por disputas de improvisação de versos rimados em uma mesma base na viola.
No entanto, você que gosta de dançar os “Tchê Tchê Rere” da vida por ai nas baladas, provavelmente não reconheceria similaridade com a música do começo do século XX, podemos assim dizer que o sertanejo atual já é um produto derivado dessas primeiras expressões de música caipira, que já recebeu influências de diversos outros estilos como o country americano, o funk, o forró, o samba e o rock. Essa suscetibilidade a outros gêneros a fim de tentar agradar gregos e troianos pode ser uma das explicações para a alta popularidade do atual ritmo mais ouvido no Brasil.
Falou... falou... Mas e ai?
Bom, com tantas influências ficou meio difícil achar o nosso tão procurado ancestral em comum, mas encontramos algumas coisas curiosas:
O Lundu marcou presença em todas as misturas que originaram os ritmos brasileiros, e se fosse pra apostar em um ancestral em comum aqui do Brasil, eu apostaria nesse cara.
E embora tenha surgido lá na gringa, uma coisa a origem do rock apresentou em comum com a origem dos demais gêneros aqui no Brasil, a influência de ritmos trazidos da África. Parece que esse foi o ingrediente essencial para a liga das misturas que deram origem aos gêneros mais ouvidos no nosso país atualmente.
E agora como ficou nossa árvore:
Tá eu sei que vocês esperavam mais dessa árvore... Mas é bem por ai mesmo. No final das contas a maioria curte Lundu, seja lá o que isso for...
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