Na última quarta-feira (12/11), às 14 horas e 3 minutos para ser mais exato, fomos agraciados com um feito histórico, desses que costumam figurar um papel de destaque nas clássicas retrospectivas anuais. Pela primeira vez, o homem conseguiu pousar um artefato humano em um cometa! Isso mesmo, coisa simples. O pessoal da ESA (Agência Espacial Europeia) conseguiu pousar com relativa precisão um módulo espacial em um cometa que se encontrava a 509 milhões de quilômetros de distância da Terra e que estava se movendo a uma gentil velocidade de 65 mil quilômetros por hora! (E você ai sofrendo para estacionar o carro corretamente em uma das vagas do estacionamento vazio do supermercado...).
Mas a essa altura do campeonato pressuponho
que você já tenha ouvido falar algo a respeito dessa missão histórica nos
jornais, internet ou rodas de conversa (do contrário você deve estar em
Marte... ou em alguma caverna... ou em alguma caverna em Marte, o que seria
assustador). Por isso mesmo não vou discorrer aqui sobre os detalhes da missão.
Em suma o que sabemos é que foi uma missão no modo hard, foram gastos mais de uma década e uma pequena fortuna para
chegarmos até o pouso de quarta-feira e sobretudo sabemos que por algum motivo
cientifico, todo esse trabalho compensa... E muito!
Mas pousou num cometa? E como era esse asteroide?
Bom, o primeiro ponto que devemos deixar claro para
entendermos o porque de todo esse trabalho dos nossos amiguinhos da ESA, é a
definição do lugar aonde eles foram se meter, isto é, um cometa.
Não há
vergonha alguma em se confundir com as definições de cometas, asteroides e
meteoros (exceto, é claro, se você for um astrofísico, astrônomo ou coisa do
tipo, aí é mancada mesmo), afinal, todos estão dentro da mesma categoria
conhecida como: Corpos menores do Sistema Solar. Existem alguns critérios ainda
um pouco nebulosos quanto a diferenciação principalmente dos cometas e
asteroides, mas vou colocar aqui o modo mais simplista que encontrei para
diferencia-los:
- Cometas são grandes bolas de gelo e gases, considerados “restos” do processo de formação de planetas gasosos do sistema solar, como Júpiter. Devido à sua composição (gelo e gases), quando expostos a radiação e ventos solares, eles costumam apresentar essa cauda e essa pequena atmosfera conhecida como coma, tomando assim o aspecto de um kamehameha como na imagem ao lado. Então lembre-se: Cometas = Kamehameha... Ou Hadouken pra quem preferir Street Fighter.
- Já os asteroides (com “A”, porque com “E” é aquilo que seu amigo bombado vive falando que nunca tomou, mas se você falar para ele que isso causa impotência ele vai defender com a própria vida que isso é mentira), são grandes pedras espaciais, também consideradas “sobras” do processo de formação de planetas rochosos como a Terra. E apenas com essas definições já é possível ver que eles são bem menos interessantes do que os cometas né? Afinal de contas eles não parecem grandes Hadoukens espaciais... Mas acho que a ESA teve outros motivos além do Hadouken para ir atrás de cometas, vamos prosseguir.
- Por fim, meteoros são pequenos asteroides, ou seja, pedras que adentram a atmosfera da terra, causando um belo espetáculo como as chuvas de meteoros ou servindo de inspiração para músicas de cantores sertanejos.
Tá, e por que pousar em um Kamehameha espacial é tão importante?
E
finalmente chegamos à pergunta que eu mesmo me fiz na quarta-feira, enquanto
acompanhava apreensivo o módulo Philae dando o ar da sua graça na superfície do
cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko (daqui pra frente vamos chama-lo apenas de “o
cometa” por razões obvias).
O lance
é que além de ter um aspecto legal, os cometas trazem consigo água na forma de
gelo. A Terra nos primeiros estágios de sua formação recebeu diversas colisões
de cometas, fato que contribui para que muitos cientistas apostem na teoria de
que grande parte da água presente hoje no planeta tenha sido trazida pelos
cometas.
Outra
teoria interessante a cerca dos cometas e dos primórdios da nossa história, diz
respeito à origem da vida. Uma teoria conhecida como a hipótese de Panspermia,
levanta a possibilidade de que esses mesmos cometas responsáveis por trazer
enormes quantidades de água ao planeta, trouxeram também na bagagem algumas
moléculas orgânicas, fato que se comprovado, faria desses modestos corpos
celestes, os principais responsáveis por espalhar a vida no planeta (e isso não
é pouca bosta hein).
O fato
é que mesmo como enormes caminhões pipa espaciais ou semeadores de vida
planetária, os cometas estão intimamente ligados com a origem do sistema solar
e dos planetas, e isso, por si só já apresentaria justificativas de sobra para
estudarmos esse tipo de astro ao máximo que nossa tecnologia venha a nos permitir, e
parece que é o que estamos fazendo. No entanto, o pouso histórico do dia 12 me
fez pensar sobre outra possibilidade que acarretaria ainda mais louros à bem
sucedida missão da ESA.
Em meio
a esse clima de pouso modo hard em um
astro irregular numa velocidade estupidamente rápida, foi impossível para o meu
pobre cérebro condicionado aos viéis da cultura pop, não fazer referência ao
filme Armagedom (ai don uana cloouus mai aaaais – entendedores entenderão). E
fazendo isso, logo consegui ver uma vantagem vital em se desenvolver uma
tecnologia voltada para missões como essa da ESA: Proteção!
Com
isso em mente, eu perguntei para o meu amigo Google, o que seria mais perigoso para a Terra: “A colisão com um asteroide ou com um cometa?” Uma vez que no
filme, para quem se lembra, todo o pânico é instaurado por conta de um
asteroide pequenininho do tamanho do Texas, que estava vindo em direção à
Terra.
Agora
adivinhem qual foi a resposta?
Um
COMETA!
E isso
quer dizer que no filme, se fosse um cometa no lugar de um asteroide, as brocas
do Bruce Willis não teriam servido para muita coisa.
Um
cometa seria mais devastador devido ao comportamento de sua orbita, eles viajam
de modo mais aleatório em torno do sol, aumentando o risco de uma colisão
frontal com os planetas, já os asteroides apresentam orbitas mais regulares,
como as dos planetas, e a chance de um impacto frontal é bem menor. No entanto
ainda assim temos muito mais chances de colidir com um asteroide devido à quantidade
desses astros aqui por perto, que é bem superior à quantidade de cometas.
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